domingo, 5 de março de 2017

Em uma tarde de fevereiro.





É mais um final de tarde quando eu subia a rua lhe fazendo companhia até o ponto de ônibus. Mais uma daquelas tardes que me lembro até hoje.
É como se a memória da gente fosse uma Polaroid e registrasse cada momento e depois guardasse cada foto em uma velha caixa de sapatos que fica guardada na casa dos nossos pais e que só é aberta na semana do nosso aniversário.
A diferença aqui é que eu guardei a caixa de sapatos bem lá no fundo do armário e não a abri mais, por muitos e muitos anos.
Quem iria saber que aquele dia, ao embarcar, ela teria que tomar um novo rumo? Eu fiz o que todo desenganado nato faria! Esperei a próxima visita e, dessa vez, não voltaria com um vazio dentro de mim. Dessa vez antes que ela pisasse naquele ônibus eu iria dizer tudo aquilo que há muito tempo estava dentro de mim, ou simplesmente iria pedir para que pegasse o próximo ônibus, e assim, pudéssemos conversar um pouco mais.
Na verdade era só você ficar um pouco mais, ali do lado, sem fazer nada.
Cada carta escrita e guardada expressa uma quantidade enorme de dias esperando que ela voltasse. Quando a conta tomou a proporção de anos conheci a palavra “esperança” que, gentilmente, me apresentou o velho, porém, sempre bom Blues que por sua vez me fez sonhar ainda mais com aquele dia.
Seguem os anos e a gente fica pensando como seria se naquela tarde eu tivesse dito o que ensaiei todas aquelas tardes depois que ela ia embora.
Hoje em dia quando fecho os olhos e me lembro daquelas tardes parece muito claro o que fazer.
Quando o ônibus parava e ela sorria se despedindo eu sinto que pego em seus braços e peço pra que volte!
Todos os dias!
Pra sempre!
Mas eu não a segurei pelos braços e a deixei ir.
Mas quando alguém se despede sorrindo é porque um dia vai voltar. Isso a esperança me ensinou!

Viva a filosofia de boteco que sempre nos fez acreditar que o mundo é redondo por um único motivo! Tudo volta um dia, inclusive aquele ônibus!
E na verdade quando você descia a rua olhando para o nada, decepcionado por não ter impedido que ela embarcasse, sentiu uma mão segurar a sua, e entrelaçadas, depois de sentir seu coração disparado e suas pernas trêmulas, ouvir da boca dela, que vai ficar mais um pouco. Que vai ficar!

Circo desengano. A bailarina e o palhaço. Esperança!

Finalmente diga aquilo que sempre quis falar!

“Vida louca vida, vida imensa” Cantaria Cazuza.


Segue o rock!